terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Na íntegra o texto que escrevi para a revista Sapatilha, de Gabriela Cardoso, Gabriela Natal e Márcio Richardson.


Vicky Cristina Barcelona


Depois de se tornar conhecido por retratar como ninguém a cidade de Nova York, Woody Allen rendeu-se ao charme e a elegância da Europa. Suas primeiras três histórias narradas no “velho continente” foram situadas em Londres ("Match Point", "Scoop" e "O Sonho de Cassandra") e ele agora aponta a câmera para a arquitetura de Barcelona, onde encena um qüiproquó amoroso estrelado pela sua atual favorita, Scarlett Johansson, a novata Rebecca Hall e os atores espanhóis Javier Bardem e Penélope Cruz (que formam um casal fora das telas).
É difícil relatar ao certo quando começou a epopéia européia de Woody Allen. O fato é que, ao encontrar dificuldade para financiar suas histórias nos Estados Unidos, Woody Allen se aproveitou de seu status de “cult” na Europa e quis acompanhar o fluxo dos financiamentos possíveis que mantivessem o intenso ritmo de cerca de um longa-metragem por ano.
Diferentemente dos três filmes anteriores rodados em Londres, "Vicky Cristina Barcelona" é o que mais aborda os “clichês” sobre a diferença cultural entre a América e a Europa. Outro aspecto interessante para quem acompanha as obras do artista é ver como se comporta o olhar do diretor sobre esta, que é uma cidade colorida e vibrante, muito diferente da cinzenta Londres e da cosmopolita Nova York.
O filme relata a história de duas amigas americanas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), que tem opiniões bastante distintas sobre o amor. Elas desembarcam de férias em Barcelona e conhecem um pintor libertário e sedutor, interpretado por Javier Bardem.
Enquanto Vicky reluta contra a paixão que sente pelo pintor, Cristina entrega-se por inteiro a ela, vivenciando um triângulo amoroso com ele e sua ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz), uma personagem digna de folhetim mexicano que transborda sentimentos.
O olhar de Woody Allen sobre Barcelona não apresenta nada de novo, já que o diretor prendeu-se a mostrar em seu filme a Barcelona dos cartões-postais que já conhecemos. Mas não deixa de saltar aos olhos com sua beleza. A cidade é, de fato, um dos grandes personagens em cena.
Com uma narração em off, o que garante um charme extra o filme tem grandes diálogos e os personagens estão cheios de sinceridade, característica acentuada principalmente nos personagens de Javier Bardem e Penélope Cruz, que dão um brilho essencial ao filme e as suas cenas mais cômicas.
Não vá ao cinema imaginando escandalizar-se ou até mesmo vibrar com as cenas de sexo á três e beijos lésbicos. Esta não é a proposta do filme e o beijo tão comentado entre as atrizes Scarlett Johansson e Penélope Cruz, que serviu até para a promoção do filme, nem chega a ser de fato um beijo.
Para quem gosta de abranger seu olhar além do filme, resta comentar que a música-tema "Barcelona", é de um grupo desconhecido por aqui, Giulia y los Tellarini. Como eles chegaram lá? Deixaram um CD na recepção do hotel para que entregassem a Woody Allen - o que efetivamente foi feito. Só que entre centenas de CD, o diretor resolveu escutar esse durante um trajeto de carro. E amou. E eu também amei, já que a música é uma delícia.

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